Entrevista com Larissa Mundim

Em 2018/2019, o ¿por quá? grupo que dança realiza o primeiro projeto de manutenção do grupo depois de 18 anos de trajetória. Durante o ano de 2018, o TRANSporquar possibilitou a realização de residências e apresentações artísticas. Para o ano de 2019, a atividade final do projeto consiste no lançamento do livro, “Breves Danças à Margem”, de autoria da porquariana integrante do grupo Luciana Ribeiro.

Para coordenar as etapas de editoração e publicação do livro, o grupo convidou a goiana e independente NegaLilu Editora, conduzida pela escritora, jornalista Larissa Mundim.

Conversamos com a Larissa sobre a atual cena literária em Goiás e a experiência de trabalhar com o ¿por quá? em “Breves Danças à Margem”.

Larissa Mundim. Foto: Reprodução/Facebook

Larissa Mundim. Foto: Reprodução/Facebook

Larissa, você é uma militante dentro da cena literária. Além da editora, produz eventos para incentivar a leitura. Como você enxerga a atual produção - e circulação - de literatura aqui em Goiás?

Também sou escritora e foi assim que surgiu a motivação para a criação da NegaLilu Editora.

A dinâmica da produção da cena literária em Goiás se assemelha ao restante do Brasil: aumento no número de autopublicações, fortalecimento das editoras independentes, surgimento de novos poetas a partir da efervescência de saraus e slams, revisão de processos produtivos com retomada de técnicas artesanais, abertura das chamadas livrarias de rua como alternativa às redes livreiras que ocupam shopping centers. O que a cena literária de Goiás (ampliando para o Centro-Oeste, Norte e Nordeste) não compartilha com a movimentação do Sudeste e do Sul é a capacidade de circulação da produção, em função da invisibilidade construída pelo sistema operacional do mercado editorial tradicional. Em resumo, temos qualidade semelhante, no entanto, menor oportunidade. Por isso é importante a postura inovadora de editoras independentes, como a NegaLilu.

A editora Nega Lilu possui seis selos diferentes. O Livro “Breves Danças à Margem” vai ser lançado por qual selo e por que?

"Breves Danças à Margem" será lançado pelo selo Eclea, criado para a publicação de biografias e de registro da memória.

E qual a importância da publicação do livro “Breves Danças à Margem”, tanto para este cenário atual do qual você já comentou, quanto para a editora Nega Lilu?

"Breves Danças à Margem" é um do projeto editoriais mais desafiadores que já surgiram na pauta da NegaLilu. Porque é inventivo na forma. Não tem compromisso com o tradicional, apesar de respeitar às formalidades de um livro clássico. Eu diria que é um trabalho perfeitamente coerente com a história da editora e do grupo Via Láctea, um dos protagonistas desta história fantástica da Dança brasileira, contada pela Luciana Ribeiro.

“'Breves Danças à Margem' não tem capa, tem figurino”

Como foi receber o convite do ¿por quá? para conduzir esse projeto? E como está sendo esse processo?

Acompanho o trabalho do por quá desde o início, uma trajetória que nos enche de orgulho. Me senti feliz e desafiada ao aceitar o convite para a coordenação editorial de "Breves Danças à Margem", por tudo o que ele significa, por tudo o que ele poderia ser. Considerando a ousadia do projeto editorial, foi fundamental o envolvimento do grupo na tomada de decisões acerca de detalhes de acabamento - a cereja do bolo que nos aproxima de forma coerente da atmosfera das memórias ali registradas. Percebo que o por quá lida de maneira muito amadurecida e respeitosa com questões diversas relacionadas à autoria.

Um dia na Casacorpo [local de escritório do grupo] você se mostrou muito animada com esse trabalho. Por que? O que essa produção do livro do ¿por quá? tem de diferencial?

Na coordenação editorial de mais de 20 livros da NegaLilu Editora, este é um dos projetos mais desafiadores e bem-sucedidos. Por vários motivos, mas especialmente porque a concepção inicial do trabalho teve resultado final satisfatório mesmo com a opção pelo uso de materiais e de estratégias de editoração concebidas de maneira menos convencional. Por exemplo: "Breves Danças à Margem" não tem capa, tem figurino. E esta é apenas uma das surpresas que este livro nos traz. Como não amar um trabalho assim? Espero também que os leitores e leitoras se deliciem.

Quais os desafios que você tem enfrentado neste processo de criação de produção do “Breves Danças à Margem”?

Amparada por uma equipe dedicada de ótimos profissionais, este trabalho nos exigiu criatividade para driblar dificuldades da execução do projeto originais. Também nos exigiu perseverança. Não abandonamos o processo de prototipagem e insistimos até nos aproximarmos do ideal possível. Outro desafio foi a busca por fornecedores de serviços nunca contratados. Etapas vencidas pelo desejo de fazer o melhor, sempre.

¿por quá? grupo que dança e Larissa Mundim em reunião sobre processo de editoração do livro

¿por quá? grupo que dança e Larissa Mundim em reunião sobre processo de editoração do livro

“Breves Danças à Margem” - Livro de Luciana Ribeiro, integrante do ¿por quá? grupo que dança

Sinopse

Uma história artística da dança em Goiânia, na década de 1980, a partir de conteúdos da tese de doutorado da professora e dançarina Luciana Ribeiro.

Esse livro foi concebido e realizado pelo ¿por quá? grupo que dança, por meio do seu projeto de manutenção TRANSporquar, com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás e publicado pelo Selo Eclea da NegaLilu Editora.

Breves Danças à Margem é composto por três partes autônomas e interdependentes para a compreensão de um fenômeno artístico localizado pela pesquisadora entre 1982 e 1986.

Ainda antes deste período, Luciana Ribeiro registra o surgimento de espaços de formação e disseminação da dança na cidade e curiosa efervescência criativa. Posturas e movimentos locais com traços de ousadia e ineditismo em suas experiências, similares aos movimentos inauguradores de novos modos de existir da dança, possibilitando diálogo insuspeito da capital goiana com o cenário nacional e internacional das artes da cena.

Neste contexto, Breves Danças à Margem se debruça sobre a instigante criação e trajetória do grupo Via Láctea, fundado na Faculdade de Arquitetura da Universidade Católica de Goiás (PUC-GO, atualmente). “Dança localizada no vão, pensada a partir do seu processo, operação de existência”, descreve a autora. Também a curiosa estreia do espetáculo “Paixão”, do espanhol Victor Navarro e o trabalho do Grupo Energia integram o corpus da pesquisa publicada.

Entrevistas, programas e recortes de jornais, além de fotos de arquivos, guiam o leitor na descoberta de experimentações estéticas de dança ‒ suas inserções e hierarquias ‒, bem como “explosões” que originaram descolamento da cena, produzindo outros acontecimentos.

A potência criativa, vibração, efemeridade e brilho da obra do Grupo Via Láctea inspiram a elaboração do projeto editorial de Breves Danças à Margem, coordenada por Larissa Mundim, com design gráfico de Alanna Oliva. Livro disponível em formato físico e eletrônico (ePub, acessível para leitores cegos e de baixa visão).

Formato: 20,5 x 27,5cm, costura artesanal exposta, capa-figurino

Número de páginas: 320 (em três volumes)

ISBN: 978-85-69770-03-9

Preço de capa: R$ 40,00

Pontos de venda: O Jardim (no Evoé Café) e Livraria Palavrear, também disponível em www.negalilu.com.br

Editora: NegaLilu – Selo Eclea

Produção Geral: Mais Um Baú de Ideias

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